domingo, 10 de dezembro de 2017

A PISTOLAGEM, A IMPUNIDADE, AS OLIGARQUIAS MUNICIPAIS E UMA FAMÍLIA QUE DOMINOU O MA POR MAIS DE 40 ANOS

ASSIM COMO FREIRE CONQUISTOU POLITICAMENTE O MARANHÃO AO ELEGER-SE SENADOR EM 1947, SARNEY FEZ O MESMO EM 1970, REPETINDO, INCLUSIVE, A TRAJETÓRIA QUE OS PERMITIU BENEFÍCIOS NAS DITADURAS (ESTADO NOVO E REGIME MILITAR) E NOS PROCESSOS DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS.
 Roseana, colorida e alegre, durante caminhada de campanha de Nenzin Júnior à                                                 prefeitura de Barra do Corda em 2016

É impressionante a desfaçatez do grupo (e aí incluo os satélites nas redes sociais) Sarney em negar sua própria história e responsabilizar o governo Flávio Dino pelos crimes de pistolagem no Estado, como se foram consequências de uma ineficaz política de segurança pública, e não de uma prática arraigada no Maranhão resultado da impunidade e da consolidação das oligarquias municipais a partir do domínio do poder estadual por uma família por mais de 40 anos, após a eleição de José Sarney em 1965.
A vitória contra Renato Archer, que disputou o Governo pelo grupo de Vitorino Freire, pernambucano que mandou e desmandou no Estado por 20 anos, não significou, no entanto, o fim do coronelismo e da supremacia política das grandes oligarquias, marcas da República Velha extintas pela Revolução de 30 liderada por Getúlio Vargas.


Farinhas do mesmo saco
                  Vitorino Freire e Sarney: a renovação do sistema                 
 oligárquico e do coronelismo no Maranhão
Assim como Freire conquistou politicamente o Maranhão ao eleger-se senador em 1947, Sarney fez o mesmo em 1970, repetindo, inclusive, a trajetória que os permitiu benefícios nas ditaduras (Estado Novo e Regime Militar) e nos processos de redemocratização do País.
Ambos também possuem em comum suas candidaturas a vice-presidente, como tática para garantir o poder de mando no Estado sem os riscos da eleição de um mandatário federal adverso aos seus desejos.
Mas é aí que a história os distingue e determina.
Enquanto Vitorino disputou em 1950 o cargo (à época votava-se separadamente para presidente e vice) em uma eleição direta e foi o último colocado com 524.079 votos contra 2.520.790 do vice eleito Café Filho, Sarney não precisou do aval da população para eleger-se vice-presidente em 1985 em um Colégio Eleitoral, e por obra do destino, assumir a presidência com a morte de Tancredo Neves no mesmo ano.
Se até então indicava ao regime militar e a Assembleia Legislativa os nomes de seus aliados para ocupar o Palácio dos Leões, com a posse no Planalto ele resolveu transformar o Maranhão em um feudo de sua família, sem a necessidade de intermediários e fantoches, que vezes por outras, por acreditar serem governadores de fato, se revoltavam e não atendiam os comandos emanados das sombras.
 Roseana entre o pai assassinado e o filho assassino: alianças das oligarquias
O curioso é que além de ser eleito indiretamente em processo idêntico imposto pela ditadura para eleger os governadores, Sarney tentou transformar o seu mandato em marco histórico da redemocratização batizando-o de Nova República, ao mesmo tempo que retoma a velha prática coronelista e oligárquica, especialmente no Norte e Nordeste.
Um contrassenso típico de quem só enxerga o próprio umbigo e por ele condiciona suas ações e subjuga a realidade. De novo e o que difere a República iniciada por Sarney da encerrada com a deposição de Washington Luís em 1930 é o coronelismo eletrônico, instaurado com a distribuição de concessões de rádio e TV para que as elites regionais mantenham seus currais eleitorais e preservem o domínio oligárquico; que em troca as protege para conservar o reduto.
Uma aliança, cujo o desfecho não poderia ser outro do que a impunidade e, por consequência, o argumento da bala no embate contra adversários e outros que ameacem o sistema.
Nenzin Júnior: preso por suspeita de ter executado o próprio pai

O caso do assassinato do ex-prefeito de Barra do Corda, Manoel Mariano de Sousa, o Nenzin, é emblemático por envolver o seu próprio filho, Nenzin Júnior, preso e apontado pela Polícia como principal suspeito de ter executado o pai para encobrir o roubo de R$ 1 milhão em cabeças de gado da fazenda da família.
Um outro filho do ex-prefeito, Pedro Teles, teve sentença confirmada pelo Tribunal de Justiça do Maranhão no mês passado, a 21 anos de cadeia por ter encomendado a morte do trabalhador rural Miguel Pereira Araújo, que teria invadido terras de sua propriedade no município.

Embora não haja notícias de
que  resolva seus problemas puxando o gatilho,
o deputado Rigo Teles foi acusado pela PF de participar de
um  esquema que desviou R$ 50 milhões         
dos cofres públicos durante a administração
do pai Nenzin em Barra   do Corda

Já o terceiro filho de Nenzim é o deputado estadual Rigo Teles, sobre quem não há notícias de resolver seus problemas puxando o gatilho, mas de fazê-lo metendo a mão no dinheiro público.
Em 2011 ele foi acusado pela Polícia Federal de compor um esquema com o pai, então prefeito de Barra do Corda, a mãe Francisca Teles de Sousa e os dois irmãos que desviou R$ 50 milhões dos cofres públicos.
A família Teles é aliada histórica do grupo Sarney, independente da sua fama de pistolagem. Em 2016, o acusado de assassinar o próprio pai foi candidato a prefeito de Barra do Corda com o apoio de Roseana que chegou a participar de uma caminhada de campanha no município.
A mesma motivação política a levou um ano depois a retornar a Barra do Corda, desta vez para aproveitar a comoção do velório do ex-prefeito e atacar o governador Flávio Dino pelo retorno da pistolagem no Estado, como se em seu governo ela teria sido debelada.
Levantamento feito em maio de 2012 pelo Jornal Pequeno revelou que entre outubro de 2011 e abril de 2012, oito pessoas, três empresários, um político, um advogado, um líder rural, um jornalista e um líder indígena foram vítimas de crimes por encomenda. Inclusive, o jornalista Décio Sá executado em um bar na Av. Litorânea trabalhava em O Estado do Maranhão, jornal do grupo Sarney de comunicação.
Sarney Filho e de Edinho Lobão que acompanharam a ex-governadora também fizeram coro à campanha política de Roseana cobrando serviço da “polícia do governo Flávio Dino” para elucidar o que consideravam ser mais um crime de pistolagem ocorrido no Maranhão.
Foram seguidos por seus asseclas na Assembleia e nas redes sociais, que no afã de atingir Flávio Dino responsabilizaram por omissão o governador pela morte do ex-prefeito, em um triste oportunismo que os fez tentar politizar uma tragédia, sem levar em conta as investigações policiais.
Mas o que não esperavam é que o tiro saísse pela culatra. A rápida elucidação do crime na mesma quinta-feira do velório e das declarações e discursos transloucados dos sarneysistas exigindo uma solução para o caso e punição rigorosa para os culpados, expôs o ridículo dos falastrões.
Com a prisão do aliado Nenzin Júnior pelo “bárbaro crime”, Roseana, Zequinha, Edinho e outros seres da mesma espécie que vociferaram por Justiça caíram em um silêncio sepulcral.

Blog do Garrone

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