Declarações do presidente Jair Bolsonaro, durante manifestação realizada hoje, em Brasília, foram interpretados por políticos de vários matizes como um recado golpista. “Nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo”, disse Bolsonaro. “Chegamos ao limite, não tem mais conversa”, falou, em outro momento.
Generais da
reserva ouvidos pela coluna, no entanto, disseram que não há qualquer
possibilidade de Exército, Marinha e Aeronáutica embarcarem em uma aventura
antidemocrática. O Ministério da Defesa afirmou que não comenta declarações do
presidente.
“Ele
(presidente) tem apoio popular, como demonstrado hoje. Mas as Forças Armadas
são conscientes da sua missão constitucional”, garantiu o general Maynard Santa
Rosa, que até novembro era o responsável pela Secretaria de Assuntos Estratégicos
do governo federal. “O momento merece equilíbrio e reflexão, não precipitação.
O general
Paulo Chagas, que foi candidato a governador do Distrito Federal nas últimas
eleições, não vê nenhuma chance de golpe. “O presidente está enganado, está
interpretando do jeito que ele quer. As Forças Armadas jamais vão entrar numa
aventura. O povo está dividido, o Brasil quer que cada um faça sua parte de
forma responsável”.
Também o
deputado General Peternelli (PSL-SP) diz ter certeza que as Forças Armadas não
agirão fora da legalidade. “Trabalham sempre dentro das normas
constitucionais”, afirmou. “Às vezes me ligam também perguntando se vai haver
um golpe contra o presidente. Nem uma coisa e nem outra”.
Os oficiais
do Exército ouvidos também criticam decisões do Supremo Tribunal Federal que,
segundo eles, se intromete em áreas que são exclusivas do Executivo. “O
precedente aberto pelo STF permite que um juiz de qualquer lugar decida ‘eu
quero isso’, ‘eu quero aquilo'”, diz Chagas. Eles se referem ao cancelamento da
indicação do diretor-geral da Polícia Federal e à suspensão da expulsão de
diplomatas venezuelanos.
Os generais
acham que os esforços do governo federal deveriam estar direcionados para o
combate ao coronavírus e não para confrontos políticos. “Parece que ele
(Bolsonaro) gosta desse tipo de confusão. Acho que tem alguma alma do outro
mundo, que mora na Virgínia (referência ao astrólogo Olavo de Carvalho), que
manda recados e ele acredita. Isso é ruim. Prejudica a ele e prejudica o
Brasil”, avalia Chagas.
Dois dos
oficiais não gostaram de saber que o presidente apareceu na rampa do Planalto
com as bandeiras de Israel e Estados Unidos no mesmo nível da bandeira
brasileira.
“Acho que
um Estado soberano como o Brasil não tem motivo para atrelar a manifestação a
bandeiras de outros países”, opinou Peternelli. “A manifestação deveria ser
essencialmente brasileira”. Chagas lamenta: “Não sei onde o presidente quer
chegar com isso, sinceramente”.
(UOL)
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